COLUNA C&T


Glaci Zancan, em 2000



Tive a oportunidade de trabalhar com Glaci Zancan durante muitos anos na militância da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) no Paraná. Faço minhas as palavras da Diretoria da SBPC e de Fábio de Oliveira Pedrosa, que reproduzo a seguir.

29.6.07

Aos conselheiros, conselheiras, sócias e sócios, amigos da SBPC

A SBPC, a ciência brasileira, estão de luto.

Glaci Zancan, nossa presidente de honra, faleceu nesta tarde, 29, às 15 horas em Florianópolis onde morou nestes últimos anos, desde que foi acometida por grave doença degenerativa.

Ainda há poucos dias nos enviou mensagem, sempre atenta e interessada nos preparativos da próxima Reunião Anual e no processo eleitoral. Na última terça-feira, 26, pediu a senha e votou.

Hoje pela manhã recebemos a notícia de que estava em coma e de tarde recebemos, através de familiares, a triste notícia.

Dedicamos à Glaci nossa reunião de Florianópolis no ano passado. Fábio Pedrosa, dileto discípulo, falou dela com carinho destacando sua contribuição para a ciência e relembrou momentos dos tempos em que presidiu a Sociedade (o texto da homenagem segue abaixo).

Em Belém ela estará presente, em nossa memória, alegre e guerreira e nos ideais severos e generosos que inspiraram a SBPC.

Com grande emoção, expressamos nossa solidariedade com a grande família Zancan de parentes, alunos, colegas, admiradores.

Diretoria da SBPC.

Homenagem

Glaci Zancan

É para mim uma honra homenagear, em nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a professora Glaci Zancan, que foi por duas vezes presidente desta sociedade.

Nós, docentes do departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, agradecemos à SBPC por promover esta oportuna e justa homenagem.

Ao iniciar, quero expressar minha admiração, respeito e consideração pela Professora Glaci que foi minha orientadora no mestrado, por sua dedicação à ciência e à política científica do Brasil.

Ética, seriedade, perseverança, destemor, inteligência e criatividade marcaram sua trajetória na ciência brasileira... Um exemplo para todos.

Nascida em São Borja, Rio Grande do Sul, formou-se em farmácia-química em 1954 e doutorou-se em 1959 pela Universidade Federal do RGS. Iniciou sua carreira na Universidade Federal do Paraná 1962, onde permaneceu por 41 anos até sua aposentadoria em 2003.

Nesse período foi livre docente, regente da cátedra de Bioquímica e professora titular. Orientou 25 mestres e doutores e lecionou bioquímica para cerca de 10.000 alunos do Curso de Farmácia e Bioquímica.

Foi Bolsista 1A do CNPq e Chefiou o Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular por quatro anos.

Em sua formação científica teve importante papel o premio Nobel professor Luis Leloir do Instituto de Investigaciones Bioquímica, de Buenos Aires, com quem estagiou por 2 anos.

Segundo o Professor Héctor Terenzi, Glaci tornou-se um mito nesta instituição pela sua inteligência, criatividade e capacidade de trabalho. Além de ter construído grandes amizades e o respeito de seus colegas.

A partir de 1970 e por 11 anos coordenou o curso de Pós graduação em Bioquímica da URFPR, sendo responsável pela sua consolidação e desenvolvimento.

Em sua carreira científica publicou trabalhos sobre estrutura e função da galactose oxidase e caracterização taxonômica do fungo produtor desta enzima, o Hypomyces rosellus.

Em sua atuação na Política científica nacional a professora Glaci defendeu temas como a Universalização da Pesquisa nas Universidades.

Rigorosa análise de mérito dos projetos por pares competentes.

Profissionalização do Docente Universitário Valorização do trabalho e da competência nas Instituições de Pesquisa e Universidades.

Seriedade e ética na ciência.

Excelência científica.

Entre suas muitas atividades em nível nacional, atuou no Ministério da Ciência e Tecnologia MCT como Diretora do Centro Brasileiro-Argentino de Biotecnologia (1989-1995).

A atuação da Professora Glaci foi fundamental na implantação e consolidação deste programa binacional, que completa 20 anos, e é freqüentemente citado pelos governos brasileiro e argentino. Como exemplo de cooperação científica de sucesso.

No CNPq, entre outras atividades, foi Presidente da Comissão Coordenadora dos Comitês Assessores, Membro do Comitê Assessor BF e Membro do Conselho Deliberativo nos anos 70 e 80, foi por duas vezes, presidente eleita da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular SBBq como tal, participou da elaboração de documentos ao governo federal propondo política científica para a área e efetivo e continuado suporte financeiro.

Sempre defendeu a importância da ciência para o desenvolvimento sócio-econômico do Brasil. Iniciou seu envolvimento direto com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em 1989 como secretária, conselheira, vice-presidente e duas vezes presidente eleita, tendo exercido a presidência de 1999 a 2003.

Entre suas realizações como Presidente gostaria de destacar:

1. A consolidação da SBPC como órgão agregador das sociedades científicas brasileiras e fórum de discussão das questões fundamentais da política científica nacional.

2. Democratizou o debate na SBPC, discutindo com todas as sociedades científicas associadas sobre temas relevantes da educação, ciência e tecnologia, bem como na indicação de representantes da SBPC junto aos diferentes conselhos, órgãos e comissões em nível federal.

3. A defesa intransigente da ciência e tecnologia nacionais, com posições firmes e independentes.

4. A recuperação do caráter de utilidade pública da SBPC.

5. O Saneamento das finanças da SBPC.

6. A resolução de questões trabalhistas pendentes.

7.A Criação do Instituto Ciência Hoje encarregado do complexo editorial Ciência Hoje, que hoje atua de forma gerencialmente independente.

8. Batalhou permanentemente junto à Comissão de ciência e tecnologia da Câmara Federal por maior apoio e verbas para a ciência nacional.

Ela participa de outros conselhos Nacionais como:

Comissão Nacional de Biodiversidade, MMA(2003-).

Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (2003-) do Governo Federal.

Conselho Estadual de Educação Paraná (2003-).

Conselho Superior da CAPES (2005-). Tendo participado da elaboração do Plano Nacional de Pós-Graduação.

Recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, do Governo Federal em 2000; a Medalha do Mérito Educativo, do Conselho Federal de Farmácia 2001 e o grau de Oficial da Ordem do Mérito Educativo do Governo Federal em 2002.

Finalmente foi homenageada com o título de Professora Emérita Universidade Federal do Paraná – As opções que fazemos na vida são fruto de nossa circunstância e idealismo.

Acredito que as opções da professora Glaci foram por amor à ciência, à bioquímica e ao Brasil. A Glaci soube enfrentar e vencer as resistências de uma sociedade refratária à presença da mulher na ciência.

Professora Glaci receba está homenagem da comunidade científica brasileira e os nossos sinceros agradecimentos.

Muito obrigado.”

Fábio de Oliveira Pedrosa

Pesquisador do Departamento de

Bioquímica e Biologia Molecular da

Universidade Federal do Paraná



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